quarta-feira, 3 de março de 2010

(Primeira Parte)

MOINHO VERMELHONum fim de tarde, dia de Outono, Jules estava num terraço de um moinho desactivado. Gostava de ir para ali, e observar o imenso vale que se estendia a seus pés. Do topo do planalto, o terraço daquele moinho era um local magnifico.
Naquele dia Jules deixou-se ficar por ali, encantado com as tonalidades do lusco fusco e em pouco tempo se fez noite. Lembrou-se de um tempo em que estivera ali deitado no chão do terraço daquele moinho com uma antiga namorada. Eram dois que se amavam, de mãos dadas, a apreciar a beleza das coisas, deixando fluir o momento, a contemplar o céu estrelado.
Estavam deitados no chão do moinho e a certa altura viram uma luz tornar-se mais intensa. Depois essa luz pareceu aproximar-se deles. Ambos susterão a respiração, tentando sem resultado perceber o que se estava a passar. Tudo aconteceu muito rápido, mas naquele momento, em que a luz se parecia estar a aproximar, o tempo passou muito devagar. Depois, subitamente, a luz pareceu ter desviado a trajectória e sumiu-se repentinamente.
Jules e Geórgia olharam um para o outro, as primeiras palavras foram:
Jules – viste isto? A luz aproximar-se e depois a desaparecer muito rápido?
- sim
- foi real ou alucinamos juntos?
- o que seria?
- um Ovni?
- ou a nossa senhora.
Mais tarde, quando foram ter com os amigos disseram em tom de brincadeira que tinham visto a nossa senhora. Eram novos naquela altura, alucinação ou não, ninguém lhe deu grande importância. Desde ai vários anos tinham passado. Jules perdeu o contacto com Geórgia, e recordava agora aquele momento.
Aquela luz, a certa altura parece ter congelado o tempo. Naqueles breves instantes a alma fez uma viagem a um sitio sem igual, e ficou para sempre marcado dentro de Jules aquele encontro imediato.
Recordava agora aquela luz, ao som de Brothers in arms dos Dire straits, com os olhos perdidos na paisagem, e no seu peito emergiu uma emoção muito forte.
Quando veio a altura de ir jantar, Jules desceu as escadas exteriores do moinho. Vinha em paz, de alma lavada, e dirigiu-se para casa. Sem saber porquê tomou o caminho mais longo e deixou-se ir em passeio pela orla do bosque.

O ENCONTRO
Quando ia quase a meio caminho viu um ser minúsculo a luzir uns metros á sua frente. Pensou que era um pirilampo o que estava na berma do caminho. Jules foi se aproximando lentamente cheio de curiosidade. Quando passou a seu lado, parou e tentou observar melhor. O pirilampo não se moveu. Luzia intenso e menos intenso alternadamente. Jules deu um passo para se aproximar e o suposto pirilampo avançou uns metros e deixou-se ficar. Jules estava cada vez mais intrigado. Tinha mais ou menos a ideia de como era um pirilampo, e aquela luzinha não lhe parecia um. Deu mais uns passos até ficar ao lado dela novamente. Desta vez não tentou aproximar-se da berma. Ficou a tentar perceber o que seria. Não lhe parecia um ser físico normal. O seu luzir emanava uma presença forte, um sentir espiritual profundo. Apesar de não terem trocado palavras, Jules e aquela luzinha pareciam ter encontrado um certo canal de comunicação. Havia um sentir partilhado, uma emoção forte que emanava da luzinha e do peito de Jules na mesma sintonia. Parecia um encontro de espíritos que falavam entre si por emoções, e se estavam a compreender sem palavras.

As tantas o espirito racional de Jules teve de formular uma pergunta.
- o que és tu? Pensou Jules.
Uma voz na sua cabeça disse – quem és tu?
Jules sentiu que aquela luzinha o estava a compreender.
Jules pensou - Aquela pergunta foi compreendida. Parece que ouves os meus pensamentos. Não tenho medo. Tudo isto é muito estranho. Se consegues falar não me vou assustar. Sinto a tua presença como se estivesse aqui uma pessoa, estás calma, como eu, estamos os dois tranquilos. Gostava que isto não fosse apenas uma alucinação da minha cabeça. Se virarmos agora costas, sem que tenhamos passado disto, nunca saberei se exististe ou não. No entanto, neste momento, és mais real que tudo o resto.
- quem és tu? Perguntou em voz alta.
- chamo-me Azuion.
Jules foi como que atingido por um relâmpago e deu um passo atrás e exclamou de admiração
- pela vaca sagrada, tu falas! Azuion. Gosto do teu nome. Eu sou o Jules. Muito prazer Azuion. Que fazes por aqui?
- gosto deste bosque. Vim até cá passear um pouco, contemplar o por do sol.
- não és daqui?
- Não, venho cá ás vezes.
- e vens de muito longe?
- sim, de muito longe mesmo.
- De muito longe mesmo? Tipo o quê, muito longe da Europa para a China?
- mais longe.
- como daqui para outro planeta?
- sim. Um planeta muito distante.

Azuion disse a Jules que a sua espécie eram os Hurse. Eram originários do planeta Zion situado numa galáxia muito distante da Terra. Zion em termos físicos era similar a Terra, com espécies vegetais, animais, oceanos, ilhas e continentes.
- são muitos os Hurse? Perguntou Jules.
- temos colónias em 247 planetas.
- minha nossa. Como nunca ouvimos falar de vós?
- ainda não tinha chegado o momento. Agora vocês estão a viver uma grave crise estrutural. A vossa primeira crise existencial global. Chegou o momento de ouvirem falar de nós. Queremos vos contar a nossa historia. Também passamos por graves crises estruturais globais. Talvez saberem o que aconteceu connosco vos ajude a encontrar o vosso caminho. Por isso estabeleci contacto contigo hoje. O nosso encontro de não foi casual. Sim, vim passear, mas sabia que ias estar por aqui. Já te tinha visto por aqui algumas vezes. Observei te e gostei do teu espirito. Hoje vim para te tentar abordar. Correu bem. Gostava de te convidar a vir conhecer o meu mundo.
- Agora?
- Sim.
- Agora?
- Temes algo em relação a nós?
- Não sei, devo temer?
- Percebo. Não há qualquer risco ou perigo para ti e para a Terra no que te estou a propor. Podes voltar a Terra quando quiseres. A viagem de ida e de retorno dura poucos segundos. O tempo que lá passares não conta aqui, quando voltares voltas ao aqui e agora, breves segundos depois.
- Sim. Azuion, vou contigo. Quero conhecer o teu mundo. Podes me levar. Estou preparado.

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