sábado, 6 de março de 2010

(Quinta Parte)



REALIDADE VIRTUAL
Ruff
- O resultado, a nossa sociedade tornou-se mais justa. Um alicerce é a dignidade mínima, o outro é o equilíbrio natural. Na harmonia entre a vida dos Hurse e a vida natural está o desafio principal. Essa é a verdadeira mãe de todas as lutas.
Ser Hurse com dignidade.
Steler
- Mais tarde, a realidade primaria perdeu importância, mas os princípios continuaram lá. No dia em que o nosso second live conseguiu ser sentido tão real como a realidade primordial, todo o nosso mundo mudou. Se podíamos agir na realidade virtual de maneira que tínhamos as mesmas sensações de vida como se estivéssemos no mundo real, real e virtual deixaram de ter qualquer diferença de facto e o que conhecíamos até ai como real que passou a ser cada vez mais base de referencia. A referencia primordial ao real, ao que nos foi dado á partida. No inicio só tínhamos o real. Quando deixou de existir diferença entre real e virtual passou a haver opção de vida.
A nossa consciência, a nossa célula da alma, não está em lado nenhum conhecido, ninguém sabe onde está. Mas através de nós tem ligação. Está através de nós, liga-se, está ali por ligação, mas em absoluto não sabemos se está ou não. Existe, algures, eterna. Nós acolhemos a nossa alma, o nosso espirito, a nossa célula primordial. Mas não sabemos se somos nós apenas em nós. Há algo que não conseguimos explicar acerca de nós. Mas está lá. É fortíssimo, perturba-nos. E aprendemos de maneiras diversas a gerir isso durante a nossa vida. Encontramos respostas diversas. A alma eterna acordou em nós na realidade primária.
Depois veio algo extraordinário, podíamos duplicar, triplicar, criar as realidades que quiséssemos. Até mudar algumas coisas não determinantes. A referencia base era sempre a Física. Depois, outros circuitos, outras dimensões. Dentro de determinadas exigências as leis da física podiam ser contornadas. A realidade virtual superou a física e a partir dai a realidade física estabeleceu-se definitivamente como o ponto da referencia.
Hoje em dia o nosso povo leva a vida adulta mais no virtual que na realidade primaria.
O que nos manteve em ligação com o corpo físico foi o aspecto da prole. Podíamos escolher existir só no virtual, mas ter filhos não, não conseguíamos gerar vida inteligente na virtualidade.
Conseguimos recriar a realidade animal biológica primaria. A nossa presença pelo avatar dava-nos a interacção. Também nós tínhamos um corpo no meio daquele teatro natural. Viver, vivemos, é o que sabemos de melhor. Reaprendemos a viver, o que é existir, a relação com o outro, a nossa unidade primordial. A consciência e o mundo, esta unidade dá-nos a existência. Existir aqui ou ali, desde que haja mundo com as bases da Física e da Consciência.
Continuar a gerar seres de consciência é o que nos mantém a ligação com o corpo físico primordial. senão, sem isso, podíamos apenas existir virtualmente, não iríamos notar qualquer diferença.
E a diferença está ai, onde sempre a encontramos, na AI. Conseguimos reproduzir tudo virtualmente, tudo menos a nós próprios. O aspecto da prole manteve a diferença fundamental entre real e virtual.
Sentimos o perigo, a vertigem de ver o corpo físico e a existência do físico perder a importância. Mas se rejeitássemos o físico e nos mudássemos todos apenas para uma existência virtual a nossa espécie tinha parado por ali. Íamos perder a capacidade de nos reproduzir.
Percebemos isso na altura certa. Nós, os Hurse, temos existências virtuais. Passamos grande parte da nossa vida adulta vivendo na representação virtual do nosso corpo. Mas todos nós nascemos na realidade primaria, com o nosso corpo primário e somos cuidados pelos nossos pais nos primeiros anos apenas na realidade primaria. Só mais tarde, quando a consciência consegue compreender e separar o que é real e o que é virtual é que ligamos as crianças.

A realidade primaria é o pilar da vida, é o nosso templo, é sagrada.
Nascemos nela, crescemos nela e tudo o que alcançamos foi nela e com ela.
A realidade virtual foi um milagre que nos permitiu levar a existência num sitio onde não temos barreiras quer espaciais, quer temporais. Estamos em qualquer lugar, observamos qualquer tempo, instantaneamente. Tudo o que aconteceu, aconteceu, é passado, não pode ser alterado, mas pode ser re visitado. Podemos ver, mesmo reviver em simuladores de sonhos, todos os momentos passados. A vida virtual foi a revolução das nossas vidas.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Steler
- Mudança social.
A partir dai passamos a ter duas vidas que estimávamos e que queríamos ver preservadas.
A realidade virtual permitiu-nos realizar muitos sonhos, e tornou as nossas vidas muito ricas em termos do que podíamos vivênciar numa vida.
Então outros desafios ganharam uma importância maior. Tínhamos harmonia social e física. Pensou-se que era o fim da vida, tudo estava conseguido, tinha-se a vida que se queria, onde se queria á distancia de um clic.
Mas restavam outros desafios, era o fim de um capitulo da vida e o inicio de outro. Há sempre uma outra onda para conquistar, um outro poema por escrever, há sempre desafios que nos alimentam a vontade de viver. Ter o básico em harmonia é essencial, mas outras grandes conquistas estão por realizar. A partir dai crescemos e evoluímos como seres a custa das vivências e da maneira como vamos aprendendo a superar obstáculos, da maneira como vamos aprendendo com as tentativas e os erros.
E foi de tentativa e erro que o desafio da AI viveu. A certa altura a AI ganhou a grande importância. Tornou-se um grande desafio. Conseguíamos ou não gerar seres de inteligência artificial?
É aqui que o relato que te estamos a fazer ganha importância fulcral.
AI. Tantas tentativas, tantos erros e tudo falhanços. A explosão da centelha da inteligência num ser particular tem algo que nos ultrapassa, que ultrapassa a nossa compreensão. Como nos ultrapassa a razão porque viemos a este mundo, quem criou a realidade primária, como a criou, e como fez disparar as coisas na origem.
No entanto nós a certa altura conseguimos recriar replicas exactas da realidade primaria nas suas fases de desenvolvimento. Recriar, com as suas leis, a realidade biológica e animal em determinada altura da sua evolução é mais fácil que a criar no inicio a partir do nada. Foi por ai que seguimos.
Recriamos o nosso mundo natural a partir das eras primarias que conhecíamos, a partir das eras jurássicas de Zion. Conseguimos isso no virtual. A partir dai organizamos as coisas para que a evolução seguisse o seu curso. Esperamos e fizemos decorrer o livro de Darwin no virtual como se fosse o real. Esperávamos. Talvez assim a inteligência virtual nascesse outra vez espontaneamente num milagre como tinha acontecido com os Hurse na realidade primária. Talvez o que nos escapa no criar da AI seja mesmo o milagre da vida em si. É espontâneo, tem algo de misterioso, de inatingível. Mas se se cumprirem determinadas exigências evolutivas, acontece.
Foi assim que esperamos que acontecesse. O mundo jurássico desapareceu, os mamíferos dominaram. A linguagem falada surgiu, desenvolveu-se, veio o ser de inteligência, e a consciência planetária. Qual seria a palavra, naquela primeira vez que nomeariam o seu planeta, como lhe chamariam? A nossa apreensão era grande.
Para gerarmos AI deixamos as coisas acontecer por si, pelas regras evolutivas que conhecíamos da nossa realidade primordial, sem a nossa intervenção directa. Deixamos a vida entregue a si e ela encontrou o caminho.
Depois do jurássico, dos mamíferos, de uns seres peludos que viviam nas arvores, e tinham a segurança para descontrair e puxar pelos miolos.
Estes já distinguiam as coisas. Mas só saia “uh, uh”, ou então prolongavam o som, “uhhhhh”.
Depois com passar do tempo as palavras foram surgindo. Quando se começaram a aventurar no solo, quando se começaram a organizar em grupos para caçar, em grupos para se defenderem, em grupos de exploradores, em grupos de nómadas re colectores á procura de um melhor local, o cérebro foi crescendo, e com o crescimento deste a consciência foi despertando.
Foi como no milagre da vida. E foi ai que percebemos. Deixamos de ter mão, controlo e previsão nos acontecimentos provocados pelas relações deles. A partir dai tinham luz própria. Não era mais o leque limitado da alma animal, tornou-se mais que isso. Aquele ser tinha luz própria, percebia o que era o caminho das coisas e desenvolvia discernimento para tomar boas opções, para inventar opções.
Tentava fazer bem, tinha as suas fraquezas, errava, mas aprendia com os erros.
E assim vimos o crescimento da inteligência, a profunda habituação ao real, ao físico.
No inicio qualquer concepção de virtualidade era uma coisa muito estranha para ele. Descobriu o mundo da imaginação, mas não havia hipótese de se confundir as coisas. O imaginário era o imaginário, o real era o real. O mundo esteva estruturado fisicamente, o ponto aceite era aquele, tudo o que ia para além disso era mito, era sobrenatural, religião.
Foi assim que se foi desenvolvendo a nossa magnifica cria, os nossos filhos virtuais. Não conseguimos criar um ser AI isolado, tivemos de recriar todo o seu mundo e a sua prole. Só assim, na interacção daquilo tudo, da vida em si, só assim a sua inteligência tem sentido.

Steler
- criamos um mundo com leis, e o desenvolvimento das coisas segundo essas leis. Os quadros de situação avançavam. Na historia natural, um dos seres animais torna-se racional, evoluiu para um nível de consciência. O ser que vimos desenvolver-se cresceu sem saber de nós. Entendeu as coisas de pontos de vista populares, religiosos, filosóficos e científicos. Ele está agora maduro e em dialogo com o seu criador.

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